Ambos são direcionados para a liberação de estímulos elétricos no coração. Por isso, são peças-chave na missão de preservar e salvar vidas. Por outro lado, apesar de partilharem o mesmo objetivo, estes aparelhos contam com diferenças técnicas importantes.
Assim como indicações e modos de uso próprios. Você já ouviu falar no termo “arritmias cardíacas”? Quando falamos em desfibrilador ou cardioversor, este conceito é fundamental. Afinal de contas, a terapia elétrica proporcionada por estes equipamentos tem como função interromper as arritmias ou irregularidades dos batimentos cardíacos. Restaurando, assim, o ritmo normal do órgão.
Para explicar com mais detalhes, o coração humano conta com um sistema que produz e transmite impulsos ao longo de todo o músculo cardíaco. Por sua vez, esse é responsável por contrair e bombear o sangue por todo o corpo. Em organismos saudáveis, isto se dá de maneira ritmada. Tais impulsos podem ser medidos na superfície do corpo, gerando um eletrocardiograma (ECG).
Na análise de um ECG, é possível detectar problemas elétricos e mecânicos no coração – em outras palavras, um ritmo irregular ou descompassado que caracteriza uma fibrilação ou arritmia cardíaca. As arritmias podem refletir distúrbios na iniciação ou condução dos impulsos que, nos casos mais graves, podem progredir para uma parada cardíaca súbita (PCS).
Durante uma PCS, é importante destacar, ocorre falta de fluxo sanguíneo adequado no corpo e no cérebro, quadro que pode levar rapidamente à morte caso não seja revertido. Nesta situação crítica, raramente uma parada cardíaca súbita se reverte de forma espontânea: para tratá-la, muitas vezes é indicado o uso de um desfibrilador ou cardioversor para aplicação de um choque elétrico, assim, restabelecer o ritmo normal do coração.
As arritmias são todas iguais? Não! Elas diferem inclusive no que diz respeito à gravidade representada pelo pulso irregular do paciente. Um outro modo de definir as arritmias cardíacas ou fibrilações é dizer que são alterações elétricas que modificam o ritmo das batidas do coração. Nesse sentido, esta modificação pode ser de vários tipos. Uma das formas de se classificá-las é através de seu local de origem. As arritmias podem ser atriais (quando originadas nas câmaras superiores do coração, os átrios), ventriculares (se encontradas nos ventrículos ou câmaras inferiores do coração) ou ainda juncionais (surgem na junção entre os átrios e ventrículos).
Vale destacar que a fibrilação ventricular é a mais grave e potencialmente mortal. O ritmo dos batimentos (ou o número de batidas cardíacas por minuto) é um outro critério que diferencia as arritmias. Se o coração bater mais rápido que o normal, por exemplo, as fibrilações são chamadas de taquicardias. Já se as batidas forem mais lentas que o ritmo convencional, as arritmias são classificadas como braquicardias.
Dentre as taquicardias, estão as irregularidades mais graves: a fibrilação ventricular (FV), como já dissemos, e a taquicardia ventricular (TV). A TV geralmente é uma emergência médica, sendo uma potencial ameaça à vida. A FV, por sua vez, provoca um ritmo rápido, desorganizado e errático que resulta em morte súbita. Demandando, portanto, imediata ressuscitação cardiopulmonar e desfibrilação (choque elétrico).
MAS QUAL A DIFERENÇA ENTRE DESFIBRILADOR E CARDIOVERSOR?
Bem, falar sobre a diferença entre desfibrilador e cardioversor é falar, antes de mais nada, sobre o modo de liberação do choque elétrico, ou da diferença entre desfibrilação e cardioversão. O processo de desfibrilação consiste numa intervenção externa através de choques elétricos aplicados na parede torácica do paciente, visando cessar a arritmia e fazer com que o coração volte ao seu ritmo normal.
De um modo mais simples, desfibrilar o coração é como apertar o botão de Reset de um aparelho eletrônico que está travado e não funciona. Assim, os choques (que são aplicados por meio de eletrodos conectados ao equipamento) “reiniciam” as células que estão se comportando de maneira desorganizada, fazendo com que elas voltem ao seu ritmo natural e saudável.
Um dos fatores que pode aumentar a confusão entre os dois aparelhos é que o cardioversor é considerado um tipo de desfibrilador – ele traz consigo todas as operações deste dispositivo. No entanto, possui ainda outro importante recurso incorporado: um circuito capaz de se sincronizar com os batimentos cardíacos do paciente (detectando uma arritmia ou fibrilação), em geral aliado a uma tela que envia informações do ECG do paciente ao operador. Atualmente, os cardioversores são os modelos de desfibrilador mais comuns nos hospitais.
A cardioversão, neste contexto, é a aplicação de um choque elétrico sobre o tórax com o objetivo de despolarizar todas ou quase todas as fibras cardíacas de maneira simultânea. Ele visa restaurar o impulso do coração de forma coordenada. Vamos partir, agora, para a diferença mais importante entre os aparelhos: A desfibrilação é um procedimento de emergência que consiste na aplicação de um choque não sincronizado de corrente elétrica no tórax do paciente (desfibrilação externa) ou diretamente sobre o músculo cardíaco (desfibrilação interna) com o objetivo de reverter a fibrilação ventricular ou a taquicardia ventricular sem pulso.
Já a cardioversão, por sua vez, é um procedimento eletivo ou de emergência que necessita de sincronização e é classicamente indicado nos casos de taquicardias instáveis ou a critério médico. Podemos afirmar, portanto, que a cardioversão é uma outra modalidade de terapia elétrica voltada a determinadas arritmias – diferente da desfibrilação, ela é realizada por meio da aplicação de uma descarga elétrica sincronizada com o complexo QRS.
Para isso, é preciso que o paciente esteja monitorado no cardioversor, cujo botão de sincronismo deve estar ativado. No caso da cardioversão, afinal, o choque é liberado apenas na onda R ou período refratário.
Os cardioversores possuem circuitos aptos a detectar a atividade elétrica do coração e sincronizar a aplicação do choque desfibrilatório com a onda R do ECG. Nesta perspectiva, a cardioversão é utilizada principalmente em fibrilações atriais e arritmias menos severas, enquanto a desfibrilação busca em grande parte reverter distúrbios graves como a taquicardia ventricular (TV) e a fibrilação ventricular (FV).
Como o disparar do choque do cardioversor exige o reconhecimento de leitura do ECG (para localizar o exato momento da onda R), fica fácil entender por que este aparelho só pode ser utilizado por médicos e enfermeiros treinados, não é mesmo? Por sua vez, os desfibriladores externos automáticos (DEAs) são de uso simples e podem ser utilizados por qualquer pessoa treinada. Isso porque o próprio aparelho reconhece a fibrilação.
E também indica ao usuário o que deve ser feito, sinalizando também o momento do choque. Vale acrescentar que alguns cardioversores possuem o modo DEA (em que esta funcionalidade mais simples pode ser ativada). E, da mesma forma, alguns desfibriladores podem ser operados como cardioversores. Tudo para oferecer um atendimento mais focado no caso específico do paciente e do socorrista.