Autor: Juliano de Figueiredo Silvério Alves – Enfermeiro Esp. em Urgência/Emergência e APH, Esp. em Enfermagem Dermatológica, Subtenente do CBMMG, Técnico em Emergências Médicas pelo CBMMG, Instrutor de APH pela ASHI-USA [email protected]
RESUMO
Os protocolos de atendimento pré-hospitalar são revisados a cada 5 anos; os enfermeiros que atendem pacientes no âmbito da urgência/emergência e APH necessitam possuir conhecimento técnico científico atualizado. A cada ano 2 milhões de pessoas sofrem queimaduras e o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta cerca de 55 milhões anualmente para o tratamento destes pacientes. As queimaduras mais frequentes são as decorrentes de choque elétrico, escaldamentos com água fervente e escoriações em acidentes de moto, que de certa forma são consideradas queimaduras. Segundo estudos, o paciente queimado irá morrer de hipotermia, estado de choque e infecção; o hidrogel age criando um ambiente úmido, promove a proliferação de fibroblastos, acelera o processo de cicatrização, alivia a dor evitando o choque devido à baixa aderência ao leito da ferida, age na proteção evitando infecção e reduz o risco de desenvolvimento de cicatrizes hipertróficas. Objetiva-se no estudo entender qual o Conhecimento dos Enfermeiros sobre a indicação do uso do Hidrogel como Primeiro Atendimento às Queimaduras em Pré-Hospitalar. O estudo foi realizado por meio de revisão de literatura, utilizando bases de dados eletrônicas, como SciELO, MEDLINE, LILACS, BDENF, MEDCARIB e acervos de livros e periódicos da Biblioteca da Fundação Hermínio Ometto – UNIARARAS. Dentre os critérios utilizados para a seleção estão artigos publicados em língua portuguesa e inglesa, com texto completo e ano de publicação no período de 2010 a 2018, e que abordem aspectos relevantes. O estudo contribuiu após análise dos artigos em referência, a falta de indicação do hidrogel para queimaduras. O enfermeiro não tem conhecimento sobre sua aplicabilidade e sua indicação no APH, desconhecendo sua ação como melhor produto nas primeiras 24h no atendimento ao queimado. O trabalho concluiu que é grande a escassez de material bibliográfico e referências científicas acerca da indicação do uso do hidrogel pelos profissionais do âmbito pré-hospitalar necessitando de maiores estudos. Aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa na FHO Uniararas sob o parecer n° 1194/2018.
INTRODUÇÃO
Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ 2012), as queimaduras são consideradas feridas traumáticas causadas em sua maioria, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos. Esses agentes podem causar a destruição, parcial ou total, da pele e de seus anexos, acometendo inclusive as camadas mais profundas, como tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos (SBQ 2012). Segundo Guibes, Crippa e Andreatta (2017), o atendimento geral de um queimado deve ser iniciado de imediato, mas com frequência, esse primeiro atendimento de emergência é feito por um familiar ou um observador bem-intencionado e que pode piorar a situação. Segundo Santos e Santos (2017), faz-se imprescindível que o enfermeiro que atue no atendimento a vítima de lesões térmicas, possua conhecimento profundo acerca da fisiopatologia dessas lesões, pois apenas desta maneira, o mesmo poderá garantir uma assistência segura e livre de danos e uma indicação adequada. “O cuidado inicial ao paciente que sofreu queimadura não envolve apenas as lesões ocasionadas com o agente causador. Assim, o primeiro cuidado é a manutenção da permeabilidade das vias aéreas, reposição de fluidos e controle da dor. São medidas que têm por finalidade diminuir complicações devido ao trauma térmico. A forma de cuidado e o tratamento ao queimado serão estabelecidos de acordo com a gravidade das lesões decorrentes da exposição, tipo e grau de comprometimento, levando em conta a real necessidade do paciente, com a finalidade da estabilização, melhora e, por fim, diminuir seu tempo de internação” (ZAMBERLAN et al., 2014). Conforme o PreHospital Trauma Life Support/Atendimento Pré-Hospitalar ao traumatizado (PHTLS, 2012) quanto maior a profundidade e comprometimento dos órgãos, mais grave será o estado do paciente. Segundo Bolgiani e Serra (2010), a fisiopatologia da queimadura em nível local, provoca uma lesão tissular e necrose de células. A queimadura altera a permeabilidade dos capilares provocando a saída de substâncias como íons sódio, potássio e proteínas plasmáticas (MALAGUTTI; KAKIHARA, 2014). A liberação de enzimas resultantes da necrose celular aumenta e acelera essas alterações, produzindo edemas, podendo provocar a síndrome compartimental e alteração volêmica como perda de proteínas e plasma, diminuindo concentrações intracapilares de íons e proteínas e diminuindo a pressão intravascular anulando assim a absorção de líquidos (MALAGUTTI; KAKIHARA, 2014). Segundo o Ministério da Saúde (2012), o tema queimaduras é extremamente importante no estudo dentro do ambiente pré-hospitalar, pela sua prevalência e gravidade, no Brasil, há aproximadamente um milhão de queimados ano, com 100 mil atendimentos hospitalares e cerca de 2.500 óbitos, o que justifica a importância deste estudo. Deste modo, objetiva-se entender, por meio da leitura de artigos científicos, se enfermeiros possuem conhecimento sobre a indicação de uso do hidrogel como primeiro atendimento às queimaduras em atendimento Pré-Hospitalar. O hidrogel é um composto transparente e incolor usado como cobertura não aderente, indicado em casos de queimaduras, de pronto emprego operacional, utilizado por paramédicos, técnicos e emergências, militares e bombeiros há mais de 20 anos nos EUA e Canadá.
MATERIAL E MÉTODOS
Para este estudo, como metodologia, iniciamos a revisão de literatura, com bases de dados eletrônicos, como SciELO, MEDLINE, LILACS, BDENF, MEDCARIB e acervos de livros e periódicos da Biblioteca da Fundação Hermínio Ometto – UNIARARAS com artigos publicados em língua portuguesa e inglesa. Aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa na FHO Uniararas sob o parecer n° 1194/2018. A pesquisa de literatura foi delimitada por publicações que abordassem tanto o cuidado de enfermagem ao paciente queimado como o primeiro atendimento em ambiente pré-hospitalar. A coleta de dados ocorreu no período de novembro de 2018 a maio de 2019. Foram considerados com critério de inclusão: artigos publicados no período de 2010 a 2019, escritos em português e inglês, e que apresentassem o texto completo disponível. Foram separados e utilizados 16 artigos condizentes com o tema e como pergunta norteadora, porque o enfermeiro não indica o uso do Hidrogel no primeiro atendimento às queimaduras em âmbito pré-hospitalar?
DESCRIÇÃO
Segundo o Ministério da Saúde (2012), a pele, maior órgão do corpo humano, é responsável pela proteção, sensibilidade, estética e defesa do organismo. Nas lesões por queimaduras há necessidade de utilizar tratamento adequado até que se produza a cicatrização e a formação de granulação nas áreas mais profundas (PERIPATO; OLIVEIRA, 2017). Segundo Guibes, Crippa e Andreatta (2017), o tratamento de pacientes queimados é direcionado para reduzir o edema, evitar ou combater infecções, proteger os tecidos viáveis, fortalecer as defesas e prover substratos essenciais para acelerar a cicatrização. Segundo Ashman (2018), uma queimadura precisa ser resfriada, mas há escassez de evidências do que usar e em como os profissionais pré-hospitalares atualmente gerenciam os pacientes queimados. Conforme Pinho (2014), os acidentes por queimadura constituem o maior trauma ao qual um ser humano pode ser exposto. Nenhum outro tipo de trauma desencadeia uma resposta metabólica tão intensa e com tantas repercussões em praticamente todos os órgãos e sistemas. Além das repercussões imediatas consequentes às queimaduras, as sequelas físicas e emocionais do paciente queimado e de sua família permanecem por toda a vida. Segundo Pinho (2014),causas mais frequentes de queimaduras são os líquidos superaquecidos, sendo a água a principal causadora, somando quase metade dos casos. Os combustíveis, dentre estes o álcool, são responsáveis por 20% de todas as queimaduras, sendo a segunda causa em frequência em nosso país (PINHO, 2014). As queimaduras por gás, em razão da grande extensão que acometem, as queimaduras provocadas pela corrente elétrica e por agentes químicos pela agressividade dos agentes causadores ocorrem em menor frequência, porém, com maior intensidade, ocasionando uma maior gravidade do quadro (PINHO, 2014). O hidrogel é muito utilizado em diversos tipos de queimaduras, principalmente as de 2º grau (PERIPATO; OLIVEIRA, 2017). Conforme o PreHospital Trauma Life Support/Atendimento Pré-Hospitalar ao traumatizado (PHTLS, 2012), “as queimaduras de primeiro grau atingem somente a epiderme e são caracterizadas por serem vermelhas e dolorosas; são também chamadas de queimaduras superficiais; as queimaduras de segundo grau, também denominadas de queimaduras de espessura parcial, são aquelas que envolvem epiderme e porções variadas de derme subjacente; estas queimaduras observadas como bolhas ou áreas desnudas, com aparência brilhante ou base úmida; as queimaduras de terceiro grau podem apresentar diversas aparências; com maior frequência, estes ferimentos são espessos, secos, esbranquiçados, com aparência semelhante a couro, independentemente da raça ou da cor da pele do indivíduo; as queimaduras de quarto grau são aquelas que acometem não somente todas as camadas da pele, mas também tecido adiposo subjacente, os músculos, os ossos ou os órgãos internos”. Segundo Paranhos (2010), as condutas iniciais do enfermeiro ao paciente queimado são retirada da roupa, escovação da pele no caso de queimaduras por pó químico, lavagem abundante da área lesionada e tratar lesões associadas. Segundo o PHTLS (2012), o método mais eficaz e adequado de interrupção da queimadura é a irrigação com grandes volumes de água a temperatura ambiente, porém, a água é um processo de resfriamento não controlado, o que em alguns casos, como em um braço queimado, seria necessário 165 litros de água para um resfriamento e controle da dor. De acordo com Chagas, leal e Teixeira (2015),a forma eficaz de tratamento de queimaduras é a aplicação de curativos estéreis e não aderentes. Segundo Santos e Santos (2017), nota-se uma escassez de estudos a respeito do atendimento pré-hospitalar aos pacientes queimados e novas formas de intervenção. Segundo Goodwin, Spinks e Wasiak (2016), osativos para queimaduras à base de hidrogel foram examinados em práticas de ambiente pré-hospitalar em 129 estudos de inclusão nos EUA, mas ainda necessita de um consenso dos especialistas. O curativo impede a contaminação ambiental contínua ao mesmo tempo em que ajuda o doente a não sentir dor pelo fluxo de ar sobre as terminações nervosas expostas (SANTOS; SANTOS, 2017). É muito importante que o primeiro atendimento seja rápido e eficaz facilitando assim os demais processos em ambiente hospitalar (SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUEIMADURAS, DATA). Segundo Tavares e Silva (2015), o hidrogel age criando um ambiente úmido que promove a proliferação de fibroblastos, bem como o processo de cicatrização e é de grande benefício na promoção da cicatrização de promovendo a redução da dor devido sua baixa aderência ao leito da ferida com sensação de refrescância, devido a sua elevada umidade, auxiliando assim na reparação tecidual por promover ambiente ideal; o hidrogel é eficaz e seguro para o tratamento de feridas, melhorando o leito tecidual e promovendo a aceleração do processo cicatricial, alivia a dor, remove o calor, resfria o local, interrompe o processo da queimadura, evita o choque, mantém úmido, é viscoso, hipoalérgico, não irritante, não evapora, portátil e solúvel em água. O hidrogel diminui rapidamente e drasticamente o calor da lesão, o calor passa para a superfície do gel por convecção, aliviando a dor em 4 minutos, evita a destruição tecidual, estabiliza a temperatura evitando a hiportermia, possui óleo de melaleuca que é bactericida, germicida e fungicida, possui em 96 a 97% do seu composto água deionizada evitando contaminação, podendo ficar no paciente de 4h a 24h como primeiro atendimento. O enfermeiro precisa ter esse conhecimento de indicação e de emprego rápido e eficaz do hidrogel aumentando assim a velocidade de cicatrização e diminuindo o tempo de internação do paciente. Segundo Zamberlan et al. (2014), os acidentes com queimaduras acometem criança, jovens, adultos e idosos podendo acontecer em casa no trabalho ou na rua, com isso, determina que a equipe que faz o atendimento com essas vítimas, tenham um amplo conhecimento e um treinamento especializado. Não só a enfermagem, mas todos os profissionais da saúde, tem um papel indispensável para um bom resultado, e que isso é um desafio multidisciplinar, exigindo sempre um melhor conhecimento e aprimoramento. (ZAMBERLAN et al., 2014).
CONCLUSÃO
Todos os protocolos de atendimento pré-hospitalar utilizados no país são oriundos dos consensos científicos, pesquisas americanas na sua grande maioria, testes em campo de batalha e laboratórios. Há mais de duas décadas os EUA e Canadá por exemplo, por meio dos militares, bombeiros e paramédicos, utilizam o hidrogel como primeiro atendimento fora do hospital em vítimas de queimaduras para as primeiras horas de atendimento. O hidrogel promove a aceleração do processo cicatricial, evita a destruição tecidual, alivia a dor, remove o calor, resfria o local, interrompe o processo da queimadura, evita o choque, mantém úmido, é viscoso, hipoalérgico, não irritante, não evapora, portátil, solúvel em água, estabiliza a temperatura evitando hipotermia, possui agentes bactericidas, germicidas e fungicidas por meio de extrato natural. Analisando os artigos em referência verificamos a falta de indicação do hidrogel para queimaduras. Constatamos pela revisão que a indicação feita em geral é uso de água ou compressa fria, sem saber ao certo quantidade a ser utilizada e tempo adequado para cada paciente. O enfermeiro não tem conhecimento sobre a aplicabilidade e indicação do hidrogel no APH, não indica e desconhece sua ação. É considerado o melhor produto nas primeiras 24h no atendimento ao queimado. Concluímos que é grande a escassez de material bibliográfico e referências científicas acerca do da indicação do uso do hidrogel pelos profissionais do âmbito pré-hospitalar necessitando de maiores estudos.
REFERÊNCIAS
Ashman H. Cooling of thermal burn injuries: a literature review. Journal of Paramedic Practice 2018;10(5):200-204.
Bolgiani AN, Serra MCVF. Atualização no tratamento local das queimaduras. Rev Bras Queimaduras 2010;9(2):38-44
Chagas DC, Leal CNS, Teixeira FS. Assistência de enfermagem ao paciente com grandes queimaduras. Revista Interdisciplinar 2015;7(4):50-60.
Comitê do PHTLS da National Association of Emergency Medical Technicians. Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado. PHTLS. 7a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2012.
Goodwin NS, Spinks A, Wasiak J. The efficacy of hydrogel dressings as a first aid measure for burn wound management in the pre‐hospital setting: a systematic review of the literature. Int Wound J 2016;13:519-525.
Goodwin NS. European Resuscitation Council 2015 burn 1st Aid recommendations – concerns and issues for first responders. Burns 2016 Jun 6;42(5):1.148-1.150.
Guibes FO, Crippa GFG, Andreatta H. Artigo de revisão: queimaduras – o que são e como tratá-las. Produção de alunos do curso de Educação Física. Vitrine Acadêmica Dom Bosco 2017; 1(1).
Malagutti M, Kakihara C T, Curativos, estomia e Dermatologia. Uma abordagem multiprofissional. Martinari, 3. ed. 2014.
Ministério da Saúde. Cartilha para o Tratamento de Emergência das Queimaduras. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.
Paranhos WY. Queimaduras. In: Salum AMC, Paranhos WY. O Enfermeiro e as Situações de Emergência. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2010. p. 709-17
Peripato, LA Oliveira, APBS. “A cobertura ideal para tratamento em paciente queimado: uma revisão integrativa da literatura”. Rev. Bras. de Queimaduras, 2017;16(3):188-93.
Pinho FM. Guideline para o cuidado de enfermagem ao paciente queimado adulto: uma construção coletiva. Florianópolis, SC. Tese [Mestrado em Gestão do Cuidado em Enfermagem] – Universidade Federal de Santa Catarina; 2014.
Santos CA, Santos AAS. Assistência de enfermagem no atendimento pré-hospitalar ao paciente queimado: uma revisão da literatura. Rev Bras Queimaduras 2017; 16(1):28-33.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUEIMADURAS (SBQ). Causas e Conceitos. Atual. em 2015. Disponível em: http://sbqueimaduras.org.br/queimaduras-conceito-e-causas/. Acesso em: 22 fev. 2019.
Tavares WS, Silva RS. Curativos utilizados no tratamento de queimaduras: uma revisão integrativa. Rev. bras. Queimaduras 2015 Out/Dez;14(4):300-306.
Zamberlan C, Martins ES, Moura LN, Plácido S. A importância do enfermeiro no primeiro atendimento à pacientes queimados em serviço de atendimento móvel. Rev Bras Queimaduras 2014;13(3):185-218.